Em até nove anos, 90% da população brasileira estará concentrada em áreas urbanas, de acordo com dados da Liga Insights. Consequentemente, as cidades precisam ser feitas de maneira inteligente e eficaz para acomodar o aumento populacional e diminuir o impacto ambiental. A mobilidade inteligente, especialmente nos grandes centros urbanos, é uma resposta a essa necessidade, graças aos avanços tecnológicos e iniciativas governamentais.

Desde 2021, por exemplo, uma importante medida tem sido implementada na cidade de São Paulo (SP) para incentivar a adoção de carros elétricos: todos os novos prédios passaram a dispor de sistemas de recarga.

A mudança é estratégica na medida em que o mercado de carros elétricos avança no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o setor vem alcançando marcos históricos com a venda de carros elétricos.

Paralelamente, os serviços de compartilhamento de transporte e uso de transportes sustentáveis têm tido um grande sucesso nos últimos anos. Ou seja, há uma onda disruptiva chegando aos diferentes sistemas de mobilidade urbana.

O que é mobilidade inteligente?

A mobilidade inteligente é uma resposta aos desafios enfrentados pelas grandes cidades, como o trânsito caótico, a falta de acessibilidade para pedestres e ciclistas e os impactos ambientais gerados pelo uso excessivo de veículos poluentes. A medida envolve uma série de soluções que visam tornar a experiência de locomoção mais eficiente e agradável, independentemente do meio de transporte utilizado.

Entre as propostas da mobilidade inteligente estão a implementação de tecnologias que facilitem a gestão de frotas, a criação de veículos guiados por dados, a construção de territórios mais acessíveis para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, além da redução das poluições sonora e do ar. Tudo para tornar os deslocamentos mais sustentáveis, econômicos e seguros.

Os veículos guiados por dados são uma das principais apostas da mobilidade inteligente. Eles são capazes de se locomover de forma autônoma, sem a necessidade de um motorista humano. Isso pode trazer inúmeros benefícios, como a redução de acidentes de trânsito causados por erro humano, além de tornar o transporte mais eficiente.

Os carros elétricos também são uma opção cada vez mais popular para a mobilidade inteligente, já que são menos poluentes e mais econômicos.

Quais os objetivos da mobilidade inteligente?

A mobilidade urbana inteligente tem como objetivos principais melhorar a qualidade de vida das pessoas nas cidades, reduzir o congestionamento do tráfego, aumentar a segurança no trânsito, promover a acessibilidade e inclusão social, além de reduzir a poluição e as emissões de gases de efeito estufa.

Esses objetivos são alcançados por meio da implementação de soluções inovadoras, tais como o uso de veículos elétricos, compartilhamento de veículos, uso de aplicativos para transporte e compartilhamento de informações em tempo real sobre o tráfego e as condições das estradas.

O desenvolvimento econômico das cidades também está entre seus objetivos, uma vez que a melhoria da mobilidade pode aumentar a produtividade das pessoas e das empresas, além de atrair mais investimentos e contribuir para o bem-estar dos moradores.

Como a mobilidade inteligente aparece nas cidades?

A mobilidade inteligente não apresenta uma única solução. Exemplos reais incluem as cidades antigas da Europa que não têm espaço para expansão e implementam várias soluções para diminuir a quantidade de veículos nas ruas, até a cidade de São Paulo aumentando a implementação de postos de recarga para carros elétricos.

1. Carros elétricos compartilhados em Brasília

Desde 2019, Brasília conta com carros elétricos compartilhados para atender os servidores públicos locais, graças à iniciativa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). O projeto chama-se “Vem DF” e utiliza o software MoVe de compartilhamento, desenvolvido com foco no uso governamental.

O software é responsável pelo compartilhamento de carros elétricos, permitindo a reserva dos veículos disponíveis e o monitoramento de sua localização. Através do aplicativo, é possível rastrear o automóvel, acompanhar a velocidade, o nível de carga da bateria, as rotas percorridas e outras informações relevantes. O acesso aos carros acontece através de cartões fornecidos aos usuários cadastrados no sistema.

Além dos carros elétricos, a medida incluiu a implantação de 35 eletropostos para recarga, capazes de abastecer dois automóveis simultaneamente. Esses pontos de recarga estão disponíveis para a população em geral.

2. Carros elétricos e ciclovias em São Paulo

Na medida em que os carros elétricos aumentam em número, também cresce a oferta de postos de carregamento públicos e semipúblicos no País. Na cidade de São Paulo, de acordo com os mais recentes dados da Elev, empresa que traz soluções para o ecossistema de carros elétricos, teve um aumento de 11,25% entre junho e agosto de 2022, totalizando 445 carregadores. 

Aliás, já é comum que condomínios da capital paulista invistam nesse setor, uma vez que a lei municipal exige pontos de recarga para carros elétricos e híbridos plug-in, em conformidade com as normas técnicas brasileiras. 

São Paulo também detém o título de maior malha cicloviária, com 681 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. Em 2021, registrou-se a marca de 1,6 bilhão de bicicletas na cidade, segundo o levantamento publicado pela pesquisadora Glaucia Pereira, do Instituto de Pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana (IPMMU). O crescimento indica uma tendência de mais adeptos do ciclismo após a pandemia.

3. Bicicletas em Barcelona

Não é apenas em São Paulo que as bicicletas se destacam como transporte sustentável e alternativo. Em Barcelona estima-se que duas vidas sejam salvas e que 2,5 milhões de euros sejam economizados por ano devido ao sistema de compartilhamento de bicicletas chamado Viu Bicing.

Desde 2013 a cidade com cerca de 1,6 milhão de habitantes se destaca. Dos 500 serviços de compartilhamento de bicicletas estimados no mundo, 20% estavam localizados na Espanha. Barcelona em primeiro lugar, com 6 mil unidades, e Valência e Sevilha, com 2 mil cada, embora Paris contasse com o maior sistema de compartilhamento de bicicletas da Europa, com um total de 23 mil bikes.

O sistema de Barcelona é bastante acessível aos usuários, que pagam apenas 47 euros por ano, desde que não ocorra nenhuma multa por atraso na devolução da bicicleta. Para utilizar o sistema, basta que os passem um cartão magnético na parte da frente do leitor Viu Bicing. Se a bicicleta for devolvida em até 30 minutos em outro rack, o usuário não pagará mais nada. O sistema funciona em parceria com a cidade, com racks de bicicletas espalhados por toda parte.

4. Transporte sustentável em Incheon, Coreia do Sul

Com vastas áreas disponíveis para construção, a Coreia do Sul sedia o Distrito Empresarial Songdo, em Incheon, localizado a cerca de uma hora a oeste de Seul. Construída em uma área de 1,5 mil acres de terra recuperada do Mar Amarelo, a cidade foi constituída para ser sustentável, tendo a mobilidade como principal recurso para tal.O distrito está investindo em uma extensa rede de ciclismo, já possui estações de carga de veículos elétricos em funcionamento, tem uma ótima conexão com os sistemas de transporte de Seul e Incheon através do metrô e seus desenvolvedores ainda prometem disponibilizar uma parada de ônibus a cada 12 minutos em cada bairro.

Mas, afinal, qual o futuro da mobilidade inteligente no Brasil?

O futuro da mobilidade inteligente no Brasil parece bastante promissor. A preocupação com o meio ambiente e a busca por soluções de transporte mais eficientes estão cada vez mais presentes na agenda das cidades brasileiras. Enquanto isso, a tecnologia e a conectividade estão avançando rapidamente, possibilitando o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade.

Algumas das tendências mais promissoras para a mobilidade inteligente no Brasil incluem o compartilhamento de veículos elétricos. De acordo com um estudo da McKinsey & Company, até 2040, o País deverá contar com 11 milhões de veículos movidos a bateria elétrica (BEVs), representando 55% das vendas de novos veículos, 20% do parque automotivo instalado e gerando uma receita anual de US$ 65 bilhões.

Esse crescimento expressivo se baseia no aumento da conscientização ambiental dos consumidores brasileiros. Mas para que esse potencial se concretize, indica o estudo, essa consciência precisa estar alinhada a elementos estruturais e regulatórios.

FONTE: Habitability

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