O movimentado mês de Agosto
Apesar da ingrata fase enfrentada pela indústria da construção civil, o mês de agosto deixou o desgosto de lado e nos trouxe muito conhecimento e troca de experiências. A jornada iniciou-se em 03 de agosto, com o Connected Smart Cities discutindo temas relacionados às cidades, ao urbanismo e comunidades inteligentes. Entre 11 e 13 de agosto, as discussões sobre sustentabilidade aconteceram no 6º. Congresso Internacional Greenbuilding Brasil 2015, onde já puderam ser discutidas as primeiras lições aprendidas com os empreendimentos “verdes” em operação, além das novas tendências relacionadas ao aumento da eficiência e da produtividade de projetos, obras e operação de edificações. Já quase no final do mês, o 12º. COBEE – Congresso Brasileiro de Eficiência Energética – abordou com profundidade e discussões de altíssimo nível técnico, o merecido e urgente assunto. Para fechar em grande estilo, a Casa do Futuro passou o dia 31 de agosto discutindo soluções que farão parte de um plano a ser implementado para que o Rio de Janeiro, em 50 anos, dê de presente aos Cariocas, uma cidade mais Resiliente e justa. O Plano leva o nome de Visão Rio 500.
Connected Smart Cities – Falando em Cariocas, o Rio de Janeiro ficou em primeiro lugar no ranking das cidades brasileiras mais inteligentes, após aplicação de 70 indicadores ligados à energia, mobilidade, educação, meio-ambiente, saúde, segurança, entre outros.
Entre discussões ligadas à mobilidade, igualdade e diversidade social, governança, energia, smart cities/grids, chama atenção o assunto “Internet das Coisas” ou IoT (Internet of Things). Uma tendência de sermos significativamente afetados positiva ou negativamente pelo uso de dados que retratam nossos hábitos e os dos ambientes que habitamos. Uma vez que temos carros, telefones/GPS, equipamentos e edificações ligadas à internet, podemos, por exemplo, monitorar a qualidade do ar das comunidades ou ambientes internos e verificar a incidência de doenças. Podemos verificar e otimizar, através de recursos automáticos, os usos de equipamentos nos horários onde a energia é mais cara. Podemos gerenciar os fluxos de trânsito de maneira mais eficaz se soubermos exatamente onde estão carros, pessoas, bicicletas, taxis ou transporte público. Estas são os exemplos mais simples dentro de uma gama interminável de possibilidades positivas e perigos relacionados à utilização do poderoso Big Data nas cidades.
Um ponto de atenção levantado em diversas discussões foi a falta de integração entre as agendas das cidades, a falta de coordenação e troca de experiências entre iniciativas que acabam acontecendo de maneira isolada. Muitas informações interessantes no site do evento: http://www.connectedsmartcities.com.br/
Congresso Internacional Greenbuilding Brasil 2015 – Pelo sexto ano, o Green Building Council Brasil reuniu as comunidades nacionais e internacionais da construção sustentável em palestras, estandes e visitas técnicas. Uma troca de experiências valiosas, com destaque para o alerta de que já temos empreendimentos sustentáveis em operação por tempo suficiente para que possamos colher ou medir alguns resultados. Quem apostou na sustentabilidade não se arrepende, mas alguns resultados relacionados ao consumo energético, por exemplo, estão ficando abaixo do projetado. Deficiências no momento de “passar o bastão” da fase de obras para a fase de operação são os motivos mais recorrentes. Precisamos de equipes bem treinadas, capazes de comandar edificações projetadas e construídas para a eficiência e sustentabilidade.
A falta de integração entre responsáveis por diferentes fases de um projeto ou entre equipes responsáveis por seu desenvolvimento foi tema da palestra da Casa do Futuro. Através de uma metodologia bem estruturada, é possível coordenar equipes de maneira que os resultados do projeto sejam maximizados em todas as suas etapas. É um jogo de “ganha-ganha” onde projetistas, proprietários, equipes de operação, usuários e o equipamento em si saem ganhando. A aplicação deste tipo de coordenação integrada de projetos é uma resposta à necessidade de ganho de produtividade, eficiência e lucratividade que o momento exige do mercado da construção civil.
COBEE – Congresso Brasileiro de Eficiência Energética – O momento não poderia ser mais adequado às discussões sobre medidas, soluções e programas de eficiência energética. Por um lado, a crise econômica nos faz buscar a redução de custos, por outro, a crise energética traz a elevação de tarifas a patamares inéditos.
As ESCOS (empresas de conservação de energia) estão buscando e encontrando caminhos que façam com que o mercado, mesmo descapitalizado, consiga ter acesso aos seus serviços e viabilizem a implementação de ações de eficiência energética em edificações, indústrias e infraestrutura urbana.
O destaque foi dado ao problema da falta de integração entre as iniciativas governamentais, a iniciativa privada e a academia. Não há consenso ou estudos que mostrem a verdadeira demanda e oferta energética a curto, médio ou longo prazo. O que se sabe, segundo o doutor Ildo Sauer, é que a “tragédia econômica nos salvou da vergonha energética”, uma vez que, se o Brasil continuasse crescendo economicamente, não haveria energia suficiente para atender a demanda.
Ressaltou-se a grande vantagem da geração distribuída. A instalação de painéis fotovoltaicos em mini ou micro geração, sobre telhados de edificações, faz muito mais sentido técnico e econômico do que grandes plantas deste tipo de tecnologia. Esta solução se mostra cada vez mais eficaz e prova ser uma provável resposta à crise energética. O custo desta tecnologia continua caindo e o investimento em tecnologia fotovoltaica é cada vez mais atrativo.
No COBEE, a Casa do Futuro ministrou palestra, em parceria com a PSR, sobre redes inteligentes de eficiência energética na indústria. As redes LEEN são uma iniciativa de origem alemã e chegam ao Brasil com a intenção de repetir o sucesso que vem apresentando por lá. A chave para tanto sucesso está na integração entre indústrias de diferentes áreas, com a troca de experiências sendo realizada sobre a moderação e consultoria de especialistas, o que traz significativos ganhos econômicos e técnicos. Mais detalhes no site do evento: http://www.cobee.com.br/
Rio Resiliente – O Rio de Janeiro é parte de um projeto chamado 100 Cidades Resilientes (100 Resilient Cities) – www.100resilientcities.org/. Uma iniciativa fantástica que ajuda as cidades a traçarem estratégias e planos na direção de um futuro mais resiliente, preparado para mudanças climáticas, conflitos socioeconômicos.
De maneira muito bem integrada, profissionais extremamente qualificados de diversas áreas e especialidades debatem as possibilidades, problemas e soluções para a cidade. O trabalho conta com diferentes subprojetos e, um dos mais destacados é o Visão Rio 500, que tem como escopo a elaboração de um plano onde serão encontradas as ações a serem tomadas nos próximos 50 anos para que a cidade se torne mais resiliente, justa e sustentável. O Plano deverá ser entregue ao Rio de Janeiro no primeiro semestre de 2016 e, depois de muitas décadas, me parece ser uma rara iniciativa, que pensa a cidade além dos 4 ou 8 anos de mandatos. O sucesso deste tipo de planejamento não deverá acontecer somente pelo fato de tratarmos as ações dentro de uma janela de 50 anos, mas principalmente pela integração entre as mais diversas áreas do conhecimento. Os grupos de discussão tratam de economia, mobilidade, educação, segurança, mudanças climáticas, resíduos, geografia, entre outros. Este tipo de planejamento traz grandes chances de sucesso não somente por definir uma janela de tempo adequada, mas por integrar corretamente todos os atores e suas interações.
Depois de um mês tão repleto de conteúdos de qualidade, o tema que se destaca como interseção entre eles é a integração. A falta de integração entre esferas, entre equipes, entre sistemas, projetos ou iniciativas pode ser a razão para a perda de efetividade, produtividade, qualidade, eficácia ou objetivo. A constatação nos faz seguir com segurança a decisão da capacitação e especialização em métodos e técnicas de integração de projetos, sistemas e equipes.
*Artigo escrito pela arquiteta Rosana Correa, LEED AP BD+C e diretora fundadora da Casa do Futuro – empresa especializada em sustentabilidade, processos integrados e tecnologia em edificações.