A Casa HCL, projeto do escritório Elmor Arquitetura, tem placas fotovoltaicas que produzem toda a energia utilizada. Além disso, a residência apresenta diversas soluções sustentáveis que reduzem o consumo.
Pode soar como um cenário digno da família Jetson, mas o fato é que uma casa autossustentável energeticamente — ou seja, que produz toda a energia que consome — já é mais do que realidade. Chamada de Casa HCL, a residência projetada pelo escritório Elmor Arquitetura foi a primeira do Brasil a ganhar o Nível Ouro do Green Building Council Brasil Casa, certificação de referência em construções sustentáveis. Aos pontos positivos, soma-se o custo: a casa saiu apenas 6% mais cara do que uma casa convencional. Mas com a vantagem de que haverá economia permanente no uso de recursos como energia e água, o que se reverterá em economia no médio e longo prazo.
Segundo Jorge Elmor, arquiteto responsável pelo projeto, o principal objetivo da casa era ser um legado do casal proprietário para seus filhos pequenos. “Eles queriam uma casa que não deixasse nenhum resíduo, tudo pensando no futuro dos filhos”, relata Elmor. Por isso, a certificação pelo GBC foi almejada desde o princípio, mas para outro nível: o Silver, um abaixo do que, afinal, acabou recebendo.
Assim, o projeto da HCL de São Paulo já começou antes da própria compra do terreno. A escolha do local foi fundamental para diminuir o uso dos carros dos moradores em uma cidade quase impensável sem automóveis: São Paulo. “A gente decidiu junto com o cliente, pensando numa localização próxima aos trabalhos e escola das crianças: ela trabalha a 400 metros de casa, e ele, a 450 metros”, conta o arquiteto. A família é composta pelo casal e dois filhos, um de 11 anos e outro de 9.
A arquitetura a favor da sustentabilidade
A casa tem 350m² divididos em três pavimentos. O primeiro é dedicado às áreas sociais: cozinha, sala de jantar, estar, sala de cinema e lavanderia. No segundo andar, ficam as três suítes, reservadas aos moradores. Por fim, o ático concentra área gourmet, sauna e piscina — que fica na cobertura para aproveitar melhor o sol.
Assim como ela, todo o desenho foi pensado para otimizar elementos naturais, tais como iluminação natural, ventilação e isolamento térmico. Todos esses fatores ajudam a reduzir o consumo de energia elétrica na casa. Os quartos têm fachada noroeste, e a residência tem aberturas dos dois lados para permitir a ventilação cruzada. Além disso, a escada vai até o ático, promovendo o efeito chaminé. “Quando o ar esquenta, sobe. O ático suga o ar quente da casa pelas escadas por convecção, pela própria física, sem climatização mecânica“, explica o arquiteto.
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Mas e para produzir a energia que, invariavelmente, é utilizada pelos moradores? “A gente criou uma pequena usina, através de placas fotovoltaicas“, afirma Elmor. Dessa maneira, a energia solar é captada, convertida e utilizada dentro de casa.
Segundo o arquiteto, isso tem sido suficiente para manter a residência funcionando — o que quer dizer que os moradores pagam apenas o valor mínimo da conta de luz. E isso, em breve, vai garantir um novo selo sustentável: o Net Zero, que garante a autossuficiência energética ou hidráulica de uma edificação e é obtido após um ano de consumo zero.
Baixo impacto ambiental também nos materiais
A obra também investiu nos materiais que menos prejudicavam o meio ambiente. Para isso, deu-se preferência a tintas e vernizes à base d’água, lâmpadas com certificado de eficiência lumínica e madeira de demolição reaproveitada em pisos e portas.
“Fora isso, a gente fez um tratamento de todas as emissões de gases durante a obra, com medidores de emissões de gases químicos ou tóxicos“, conta Elmor. “Nós instalamos um filtro de placa iônica catalítica – tecnologia nova que filtra o ar e mata 99% das bactérias, devolvendo um ar puríssimo“.
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Ele destaca ainda que o paisagismo, assinado por Gil Fialho, trouxe apenas espécies locais. O jardim aproveitou a maior parte da área permeável do terreno. “São Paulo tem um grande problema de enchentes, em grande parte devido à impermeabilização de calçadas. Se todos os moradores tivessem maiores áreas permeáveis, a chuva seria retida”, alega.
Investimento que se paga
Uma casa sustentável exige planejamento. Frequentemente, essas soluções saem mais caras do que a opção convencional. No caso da HCL de São Paulo, esse custo surpreendeu por ter sido apenas 6% maior do que o valor de uma casa “comum”, diferença que se paga em dois anos com a economia na conta de luz, como estima Elmor.
“A gente fez um orçamento inicial, mas não imaginava que ao longo da construção ia ter redução de preço de vários itens sustentáveis“, ele conta. As empresas fornecedoras colaboraram na negociação dos itens, favorecendo a conta final.
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Elmor ressalta a importância que os arquitetos têm em reforçar as opções sustentáveis para seus clientes, que podem resultar em construções com impacto ambiental muito menor — e é isso que vai promover uma conscientização na área. “Precisa conversar com o cliente e falar que existem opções boas. Dá sempre para optar por uma alternativa mais ecológica“.
Fonte: Gazeta do Povo.