Quando falamos em sustentabilidade para o mercado imobiliário é quase impossível não mencionarmos o trabalho do Green Building Council, cuja certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é a mais difundida internacionalmente, presente hoje em 143 países e com 53.638 edifícios certificados, tendo os EUA como país com maior número de prédios certificados, atingindo 47.730.

Nos EUA, edifícios com a certificação LEED contribuem para 40% do PIB da construção sustentável do país, que alcançará US$ 303,5 bilhões entre 2015 e 2018. Igualmente impressionantes são as previsões de economias geradas em prédios com certificação LEED para o mesmo período: US$ 1,2 bilhão em economia de energia, US$ 149,5 milhões em economia de água, US$ 715,3 em economias com manutenção, e US$ 54,2 milhões com economias de resíduos.

Durante a Green Building Brasil 2016, conferência internacional realizada em SP entre os dias 09 e 11 de agosto de 2016, tivemos a oportunidade de entrevistar com exclusividade o Sr. Mahesh Ramanujam, presidente eleito do US Green Building Council, que conversou conosco sobre sustentabilidade nos mercados imobiliários norte-americano e brasileiro.

1) Quais são as tendências principais para prédios sustentáveis nos EUA atualmente?

Temos hoje três principais tendências:

– A principal para prédios sustentáveis é eficiência energética, que será um dos principais direcionadores do mercado.

–  A segunda maior tendência será o foco em edifícios existentes, por meio de retrofit ou renovações, tornando-os prédios melhores.

– A terceira são pessoas buscando performance nos prédios, incorporando princípios de sustentabilidade no projeto, na construção e na operação.

O mercado hoje demanda prédios em que possamos medir e gerenciar performance, buscando alcançar aquela obtida por prédios sustentáveis. Então performance é o futuro, temos que mudar tudo em direção à performance.

2) Como diminuir o gap existente na mentalidade de quem constrói prédios (focados em obter retorno financeiro na construção) e quem os opera (focados em obter performance operacional e redução de custos ao longo da vida útil do edifício)?

Quem opera edifícios é muito bom em medir tudo. Eles monitoram ocupação, segurança, e vários indicadores. Se algo apresenta um problema, sabem como reagir. Mas eles não sabem como medir e monitorar um prédio sustentável. Usando ferramentas como LEED Dynamic Plaque, que foi criada para o dia a dia para medir este tipo de construção, é possível checar se um prédio sustentável está performando conforme o esperado. Se a performance está subindo, ótimo, se está caindo temos que entender o porquê disto está acontecendo e mudar comportamentos.

3) Uma das maiores discussões na conferência do GBC Brasil no ano passado foi a comparação do desempenho previsto para prédios sustentáveis após este serem entregues versus sua performance real após um ou dois anos de operação. Isto porque foi detectado GAPs importantes no Brasil entre estes valores. Como o senhor analisa esta questão?

O que estamos fazendo é lançar uma política de GAP zero, subindo o nível da certificação, de forma a incluir a performance após o edifício estar em operação e ser avaliado.

4) E em relação à realidade brasileira e nosso mercado, o senhor teria algo a ressaltar?

No Brasil, três ou quatro anos atrás o mercado experimentava um boom, e todos estavam construindo novos prédios. O foco estava no que era novo. Mas a realidade é que 90% do estoque de prédios são os prédios existentes. Junte-se a isto o fato de que o desenvolvimento sustentável é um pré-requisito e não uma opção. Sendo assim, no nosso entendimento o foco deveria sair dos prédios novos e ser direcionado para os prédios existentes, que se concentram em operações e criam um quadro de referência para performance. E para um ponto de vista sustentável, isto é o que existe de mais importante.

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5) A sede do Secovi Rio está no coração do Centro do RJ, e se você olhar pelas janelas do nosso escritório para os outros prédios, provavelmente nenhum deles estaria apto a pleitear uma certificação LEED. Entendemos que, para a certificação LEED, o primeiro mercado potencial foi o segmento Comercial AAA, mesmo porque foram os primeiros a buscar este tipo de certificação. O que poderíamos fazer para mudarmos o foco deste segmento para prédios existentes antigos?

A LEED tinha foco em novas construções e tivemos a mesma abordagem dos prédios novos quando começamos a pensar em prédios existentes. Agora estamos mudando nossa abordagem para este tipo de prédio, reconhecendo até oportunidades para melhorias incrementais. Estamos tentando entender por onde começar, o que pode ser feito desta forma, por meio de pequenas transformações. Nossa mensagem é: apenas comece. E para continuarmos a elevar o nível, estamos buscando uma abordagem mais holística, abrangendo energia, água, resíduos, saúde humana, qualidade do ar, etc. Começamos a reconhecer que os prédios que estão fazendo estas melhorias caminham em direção a uma certificação LEED. E, desta forma, mostraremos que a LEED não serve apenas para o topo da pirâmide, as novas construções, mas também para a base da pirâmide, porque, no final das contas, todos os prédios em operação são prédios existentes.

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