A sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço dentro da construção civil de nosso país. Prova disso é que, apesar das estimativas ruins para 2016, devido a grave crise econômica e política que o Brasil vive, o mercado da construção sustentável vem apresentando números surpreendentes no início deste ano. Segundo o GBC Brasil, organização que visa fomentar a indústria de construção sustentável no país, no primeiro quadrimestre de 2016, foram contabilizados 81 novos registros de projetos (73 para LEED e 8 para Referencial Brasil Casa), contra 45, 29 e 71 referentes aos anos de 2015, 2014 e 2013 respectivamente. Em 2016, o grande destaque foi o mês de abril, com recorde de 36 registros LEED e 2 do Referencial GBC Brasil Casa.
Desta forma, o começo de 2016 desponta como o segundo melhor ano para o movimento green building no Brasil, perdendo apenas para os 90 novos projetos registrados no primeiro quadrimestre de 2012. Apesar da crise, alguns fatores contribuíram para o atingimento destes números. Conversamos com Felipe Faria, Diretor Executivo do Green Building Concil Brasil, que nos ajudou a entender melhor o sucesso do mercado da construção sustentável em nosso país neste período de crise.
Quais foram os principais fatores que contribuíram para que mais projetos LEED fossem registrados no início deste ano?
Felipe Faria: Acredito que o principal fator é a consolidação da cultura da construção sustentável junto aos principais “stakeholders” da iniciativa privada, a expansão dos registros de projetos a todas as regiões do país e a diversidade de tipologias. Concomitantemente, esta consolidação é justificada pela comprovação dos principais benefícios de cunho econômico que a construção sustentável oferece, como: aumento da velocidade de ocupação, aumento da retenção (aumento da competitividade), maior liquidez e menor taxa de inadimplência.
A evolução da indústria fornecedora de materiais e serviços ligados à sustentabilidade também contribuiu para esta expansão?
Felipe Faria: Sim, pois hoje contamos com um número expressivo e ainda em crescimento de soluções para este mercado. Há indústrias e empresas que estão avançadas até nas temáticas relacionadas a avaliação do ciclo de vida e declaração ambiental de produto.
Com o crescimento de certificações LEED no Brasil, mais profissionais vem buscando qualificação dentro do setor. No RJ, os cursos oferecidos pela GBC Brasil no Secovi Rio tiveram grande procura. Como você avalia isto?
Felipe Faria: Parcerias como a do GBC Brasil e o Secovi Rio na capacitação de profissionais, bem como na disseminação da informação, estudos, cases de sucesso e novas tecnologias são decisivas, uma vez que cria uma forte rede colaborativa a ponto de influenciar e acelerar a transformação em cadeia, almejada pelo setor.
A diversidade de tipologias que buscam a certificação LEED aumentou significativamente. Isso também foi determinante para o aumento do número de projetos registrados?
Felipe Faria: Desde 2013, observamos grande diversidade de tipologias buscando a certificação LEED. O movimento não estava mais restrito às edificações corporativas de alto padrão. Passamos a receber muitos registros de plantas industriais, centro de distribuição e logística, lojas de varejo e data centers. Em 2014, o GBC Brasil, lançou o Referencial GBC Brasil Casa. Hoje já são 33 projetos registrados, incluindo prédios residenciais verticais e loteamentos que participarão da versão piloto.
Recentemente, grandes potências mundiais se reuniram para assinar um acordo histórico contra o aquecimento global. Isto somado ao crescente incentivo de políticas públicas no setor reforça a importância do tema para a indústria da construção civil?
Felipe Faria: A Reunião das Partes, COP Paris, enfatizou o papel das edificações no novo cenário de articulações para um acordo climático. Hoje, 40% da energia é consumida nas edificações, bem como somos responsáveis por 30% das emissões de CO2. Foi concluído que um plano global de eficiência energética em edificações existentes e a aceleração do conceito e execução de novos projetos “net zero energy” auxiliará na manutenção de 2ºC a 1,5ºC de aumento de temperatura até 2050. Neste sentido, uma série de políticas públicas, incentivos financeiros e compromissos estão sendo firmados. Recentemente o Prefeito de São Paulo assinou um projeto de lei que oferece de 4% a 12% de desconto de IPTU para edificações novas ou existentes, residenciais ou comerciais com certificação.
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Investir no mercado de construção sustentável significa usar de forma mais eficiente os recursos naturais, diminuindo o consumo e, consequentemente, gerando economia de água, luz e etc. Segundo Faria, estas ações relacionadas aos incentivos, vantagens e divulgação auxiliam na criação de uma atmosfera positiva ao movimento da construção sustentável, que tem a tendência de continuar crescendo. “Estas razões comprovam a maturidade e consolidação do movimento da construção sustentável no Brasil, sendo que a certificação LEED, assim como o engajamento de diversas Associações, Poder Público e iniciativa privada despontam como partes importantes que regem este movimento” conclui Faria.
*Crédito Imagem: Nelson Kon